domingo, 19 de novembro de 2017

Culpados

Estamos sempre em busca de culpados.

Seja para apaziguar a dor.
Seja para mudar nosso foco.
Seja para não nos perdemos de nós mesmos.

Mas não há culpados, apenas momentos de inércia, a falta do tempo ou o desencontro.

Nós apenas guardamos bons momentos.
Nós devemos guardar o que ficou de bom.
Nós devemos manter o contato de quem nos fez bem.

Mesmo que isso doa como se fosse nos arrancar algo do peito.

(Allan Chaves, 19:17 - 19:22, 19/11/2017)

sábado, 18 de novembro de 2017

Insuficiente.

De ouvir que eu sempre sou incrível pra evitar me magoar,
me magoa saber que sou tudo isso mas não há quem fique.

De ouvir que o interesse morreu,
mata aos poucos o pouco de esperança no antigo eu.

De ouvir que  eu não dei o tempo, apenas o apoio,
mata a vontade de me doar até mesmo pra mim.

Eu sempre entro, e caio,
aos trancos, barrancos, tropeços,
trepidações, sem meios, teu seios.

E tudo está ao alcance,
até notar que tudo esteve fugindo,
e eu agindo como se nada de ruim acontecesse.

Eu me deixo mais uma ferida aberta.
Eu me martirizo por erros que eu nem percebi ter cometido.
E percebo aos poucos que não sou o bastante.

Medido. Pesado.
Me considerando uma vez.
E outra vez.
E mais uma vez.

Insuficiente.

(Allan Chaves, 19:43 - 19:50, 18/11/2017)

domingo, 23 de abril de 2017

Entre, durante, depois.

Lembrei que ela tem sinais irregulares perto do umbigo.
Lembrei que ela gostava de abraços apertados que a tiravam do chão.
Lembrei que ela tinha o nariz mais gostoso de se morder.
Lembrei que ela se preocupava se eu mostrava o mínimo sintoma de doença mas eu me deixava de lado pra cuidar dela.
Lembrei que ela adorava quando eu imitava o Stitch.
Lembrei que ela esteve comigo quando eu quase perdi a vida, mas pra mim era mais importante ela chegar cedo ao trabalho.
Lembrei que ela suportou meu lado mais sombrio quando quase perdi meu filhote de 4 patas.
Lembrei que ela me abraçou forte e não me permitiu dizer que a amava, pois iria pra longe.
Lembrei que ela gostava de dormir sobre meu braço pois era mais macio que o travesseiro.
Lembrei que ela cheirava a morango e maçã.
Lembrei que ela me deixou acordado por quatro dias.
Lembrei que ela me fez perder o ar ao voltar pra casa.
Lembrei que ela gostava de me fotografar enquanto me via cozinhar.
Lembrei que ela apareceu pela manhã, deixou seu perfume e foi embora.
Lembrei que ela gostava de receber massagem nas batatas das pernas.
Lembrei que ela gostava do proibido e do oculto.
Lembrei que ela adorava me ensinar pratos novos com o mínimo de materiais.
Lembrei que ela me deixou no meio do nada, sem dar explicações sumiu com quem lhe era mais conveniente.
Lembrei que ela não acreditava quando eu dizia o quanto corpo dela era lindo.
Lembrei que ela sorria com os olhos quando a abraçava pela cintura.
Lembrei que ela queria me tirar do país.
Lembrei que ela chegou na minha casa, mandou e desmandou e não se importava com minha opinião.
Lembrei que ela tinha uma fraqueza por baixo daquele vestido preto.
Lembrei que ela gostava de esfregar os pés nos meus nas poucas vezes que acordamos juntos.
Lembrei que ela adorava me apertar e olhar bem fundo nos olhos.
Lembrei que ela viajou estados pra me encontrar e nada melhor que ficar roxos quando nos vimos a primeira vez.
Lembrei que ela vermelha apenas revirou os olhos ao meu lado.
Lembrei que ela adorava me fazer ciúmes pra que da minha mágoa eu voltasse menor que ela.
Lembrei que ela veio como fogo e fugiu como brasa.
Lembrei que ela lembrava dela, e quando preciso, entendeu que não precisava lembrar de mim.
Lembrei que eu achava muito mais importante o futuro dela do que o meu.
Lembrei que eu não importava com meu caminho, desde que estivesse ao lado dela.

Lembrei que ela era negra como ébano.
Lembrei que ela era branca como areia.
Lembrei que ela era dourada como mel.
Lembrei que ela tinha os cabelos de fogo.
Lembrei que ela tinha cabelos negros como o infinito.
Lembrei que ela tinha cabelos azuis como o mar.
Lembrei que ela tinha cachos que me enrolavam os dedos.
Lembrei que ela tinha cabelos que me perdiam as mãos.

Eu lembrei que magoei cada uma delas.
Eu lembrei que eu não lembrava de mim.

Durante muito tempo eu apenas lembrei delas.
Durante muito tempo eu pensei que somente elas eram importantes.
Durante muito tempo não pensar em mim só fez afastar mais.
Durante muito tempo acreditei que eu deveria saber apenas sobre quem estava comigo.
Durante muito tempo eu fui o segundo plano da minha própria vida.
Durante muito tempo eu só quis achar alguém.
Durante muito tempo eu quis apenas sumir.

Hoje eu lembrei que não lembro de mais nenhuma delas.
Hoje eu lembrei que não há nenhuma delas comigo.

Hoje eu lembrei que sou eu e eu mesmo.

Finalmente hoje eu lembrei.

(Allan Chaves. 23:56, 23/04/2017)

domingo, 1 de janeiro de 2017

Apenas Passado.

Pois da última noite virada,
dos últimos momentos vividos,
é uma necessidade tornar-se passado,
de cada segundo e ferida,
de cada decepção e lembrança perdida,
hei de ser só passado.

Apenas passado.

(Allan Chaves, 22:00, 01/01/2017)