terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Névoa.

Os lobos caçam em suas matilhas,
e a noite vai continuar sendo sempre a mesma,
não sentimos nada além da dor,
as dores de não termos mais as faces um do outro,
não existem mais sons,
nem corações acelerados,
não existe mais comprometimento.

Não pra mim, não pra ti,
Não há ninguém, não mais,
o paraíso já levou todos.

Não nos serve mais entender.

Espera se torna algo comum,
mesmo que ao esperar por nada,
torne minutos longos demais,
mas em algum lugar dos meus pesadelos
há uma dama de grená,
obscurecida por névoas,
e prefiro cerrar meus dentes em dor.

Não há nada além de dor,
Céu e inferno são esquinas,
e pensar apenas faz doer mais.

Não nos convém mais entender.

(Allan Chaves, 13:58 - 14:24, 13/01/2015)

D'os olhos castanhos.

Os grandes homens gordos esperam na beira da estrada,
tão velhos que mal se locomovem,
os pássaros se aninham no frio das estrepes,
jovens penas caem de anseio,
eu apenas continuo caminhando,
pela terra batida que me afastou do caminho.

Da garota de olhos castanhos.

Não haverá prosperidade ou diversão daqui em diante,
os atos que trouxeram o viajante até aqui,
os caminhos que ele cortou,
os atalhos cheios de farpas,
pra no final não ter nada.

Nem a garota de olhos castanhos.

O inferno se aproxima,
com ele todos os medos,
que agora são encarados,
enfrentados como se não houvesse amanhã.

Ou nenhuma mulher de olhos castanhos.

(Allan Chaves, 12:01 - 12:07, 12/01/2015)

domingo, 11 de janeiro de 2015

D'as Distâncias.

Amores distantes não sobrevivem a distâncias tão longas,
centímetros, metros, kilômetros?

Amores distantes de hoje não sobrevivem a mensagens,
facebook's, whatapp's, tumblr's?

Amores distantes não sobrevivem,
pois não querem sobreviver de distâncias,
querem viver de encontros,
topadas e beijos,
noites, dias e gozos,
sóis, luas e frios.

Amores distantes não deveriam sobreviver ao tempo.
Paixões estranhas aos carnaváis.
Carinhos saudosos de uma noite.

Mas pros que vivem,
que lutam, sobrevivem,
sinto todas as suas faltas,
a alma vazio percebe que sente falta,
de ter oportunidade de tentar ser uma novamente,
uma com outra, com outro corpo, com outra vivência.

Amores distantes não deveriam sobreviver a nada.

Mas sobrevivem quando deveriam ter morrido.

Sobrevivem e acabam por fazer mal a um alguém que no fim de tudo se viu ninguém.

(Allan Chaves, 17:52 - 18:10, 11/01/2015)

Desabando.

Sabe quando dizem que você é responsável por suas ações? Apenas lembre: você é.

Em 2009 decidi pela faculdade de Artes. E hoje nao sei qual caminho tomar nesse meio. Poderia ter me afogado na depressão e concluído um plano obscuro de tirar minha própria vida. Daí começa toda minha história de depressão, que perdura até hoje.

Em 2010 poderia ter ficado em Fortaleza. Começado do zero, abandonado a faculdade.

Em 2011, poderia ter ido a São Paulo, recomeçado, aceitado que alguém podia me querer bem, mas minhas decisões por conta de meus fantasmas me mantiveram aqui e magoaram boas pessoas que por lá estavam.

Em 2012, poderia ter casado. Quem sabe, hoje seria pai, e provavelmente teria um Calvin correndo pela casa destruindo tudo.

Em 2013, poderia ter pego aquele ônibus que capotou na estrada de Fortaleza e estaria a sete palmos do chão. Poderia ter posto finalmente o anel naquela história de 13 anos... ou, com a perda, dado chances ao destino de cabelos vermelhos.

Em 2014 poderia ter dito "não" a uma oportunidade e não teria meus projetos - pequenos, eu sei - perdidos no tempo. Poderia ter começado a morar no RN, finalmente e novamente amado alguém, acreditado e começado tudo de novo.

Em 2015, pretendo apenas escolher não ficar mais por aqui se tiver a chance.

Cansei de tomar decisões que parecem tão erradas. Não culpo meus fantasmas, mas a mim mesmo por ter dado tanta força a eles, força suficiente para que eu mesmo não consiga me libertar deles... e não quero perder mais nem um ano, nem uma chance, nem um outro amor.

Estou bastante cansado, cansado de me arrepender.

(Allan Chaves, 00:20 -00:48 - 10/01/2015)

sábado, 10 de janeiro de 2015

Sobras.

Vinde e ouça.

Apenas ouça.

O silêncio que não faz mais diferença.

Os gritos que agora você não mais ouve.

Mas há, lá no fundo das minhas palavras,

no fundo de meus pensamentos,

o que sobrou de você.

(Allan Chaves, 22:48 - 23:10, 09/01/2015)

Baterias.

Sobraram as séries de lembranças,
os RAM's de solitude,
as baterias de energia que não tenho mais,
os cabos de dados que me amarram às cadeiras,
o joypad que me controla,
o mouse que me prende.

A tecnologia que me deixa preso em casa,
e em casa que prefiro me manter pra me curar,
ou quem sabe, definitivamente, me sacrificar.

(Allan Chaves, 21:10 - 21:16, 08/01/2015)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Recife, Cidade Sombra.

Odeio cada um dos bairros do Recife,
odeio cada rua cheia de história,
cada esquina cheia de carinhos,
cada curva com os meus restos.

Odeio todos os anos vividos nessa cidade,
odeio os anos perdidos num só bairro,
cada caminhada na beira do rio,
cada luz apagada ao meu passar.

Odeio tanto essa cidade,
tanto quanto amo cada pedacinho dela,
cada ladrilho nas ruas do Recife Antigo,
ou das tábuas velhas da Sala de Reboco,
das BR's que me faziam sair dela,
como das estradas que me traziam de volta.

Te amo Recife, mas te odeio tanto,
que se torna insuportável viver em você,
odeio teus carnavais e festas,
odeio tuas luzes e músicas,
odeio tuas águas,
sejam por minhas histórias,
sejam por meus fantasmas.

Você é minha cidade luz,
mas também meu caminho de sombras,
Cordeiro, Torre, Madalena,
Várzea, Caxangá ou Jaqueira,
te amo tanto Recife,
mas não sei se suportaria mais viver em ti,
sozinho em ti.

Não sei se sobreviveria um dia a mais Recife,
não sei se suportaria perder mais um de teus bairros para meus fantasmas.

(Allan Chaves, 23:15 - 23:32, 07/01/2015)



terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Penitência.

Como abandonar os últimos quinze anos?

Sejam de amores, sejam de dores, sejam de amizade.

Somos divergentes,
diferentes,
indecentes,
até descrentes,
mas somos cúmplices.

Me culpar por todos os erros não corrigem nada.

Te culpar por desacreditar no sentimento não faz nada mudar.

Somos equilíbrio,
toque,
murmúrio,
respiração,
a complexidade de um só.

Repetir e insistir em nunca mais te ver é um erro.

Fugir do que é verdadeiro é apenas uma triste lembrança.

Somos disposição,
intuição,
razão,
emoção,
e nunca seremos apenas uma história.

Mesmo em pleno carnaval,
seja a dor que vai me alfinetar,
em plena Lua cheia,
a cama que vazia estará,
completa e pura dor,
que dorme em silêncio no teu lugar.

Sentirei falta, me rasgarei de ciúmes,
não aceitarei outro amor ao teu lado senão o meu,
mas não há de existir dor maior do que um nunca mais,
do que sempre será verdadeiro,
seja qual amor tenha sobrado...

Mas por favor, não vai embora.

Não ouve mais as palavras amargas de um coração desesperado.

E perdoa...
Perdoa a falta de tato,
perdoa o velho touro em solitude,
perdoa a dor que eu não consigo aguentar,
perdoa a descrença e tesouros entregues perdidos no tempo,
perdoa o segredo que morreu com nosso amor.

Perdoa.

E deixa eu aceitar que meu perdão merece minha própria penitência.

(Allan Chaves, 18:11- 18:42, 06/01/2015)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Fundo de Taberna.

Um velho clérigo adentra uma taberna decrépita, em meio a tantos bêbados e vultos estranhos, ele avista um jovem vestindo uma puída armadura de couro. Seus braços estão cheios de cicatrizes, assim como seu rosto e pescoço.

O ancião se aproxima, puxa uma cadeira e fala ao jovem.

- Você se lembra de onde vieram todas as suas cicatrizes jovem guerreiro?

- Claro que sim! - afirma animadamente o jovem.

- Essa maior e enegrecida? D'onde vem? - apontando para o braço direito do guerreiro.

- Ah, essa? Foi quando eu cozinhei pão de queijo pela primeira vez!

Silêncio.

(Allan Chaves, 21:30 - 21:47, 05/01/2015)

domingo, 4 de janeiro de 2015

Ácidos, etílicos, cálidos.

Me deixa enamorar tuas pernas pálidas,
entornos cálidos,
mentes vividas,
cabelos negros áridos.

Que vinde a fogo de ácido,
queimando vívido,
machucando lírico,
tesão etílico.

Foge agora como bandida altiva,
negando desejo,
lambendo íntima,
amor tímido.


(Allan Chaves, 20:15 - 20:21, 04/01/2015)

sábado, 3 de janeiro de 2015

Relatos de assombrações passadas.

É sob a primeira Lua cheia do ano que eu volto a ser assombrado. Um sonho antigo, um mesmo sonho que já se repetiu anos atrás. Há 14 anos atrás mais exatamente (não que o dia seja exatamente esse), aos meus 13 anos, sonhei com ela pela primeira vez.

Eu morava numa casa com piscina, quadra, tinha uma vida boa e criatividade sobrando.

Então ela veio. Não era fácil esquecer o rosto longo, nariz redondinho e arrebitado, sorriso largo e olhos castanhos enormes. Cabelos pintados de um vermelho escuro, longos e cacheados. E não esqueça das tatuagens. Debaixo d'água ela me puxou pelos ombros, me roubou um beijo e emergiu, me puxando consigo. Então ela sorria e eu? Acordava.

Depois disso, ela sumiu e eu me apaixonava pela primeira vez. Uma paixão que você pode julgar boba, adolescente... mas depois disso, o sonho, ela voltou. 7 anos. Ela estava lá, voltava a meus sonhos e logo após um fim de semana ao lado de meus bons amigos, numa casa de praia. E sim, o lugar tinha piscina.

O mesmo rosto longo, nariz arredondado, arrebitado, o sorriso largo e olhos castanhos brilhantes. Ruiva, cabelos longos e cacheados, mas não aqueles cachinhos pequenos, mas longos cachos dançando debaixo d'água. Tatuagens. Novamente embaixo d'água me puxou pelos ombros, me roubou um beijo e emergiu me puxando consigo. Mas a piscina era a mesma da minha antiga casa, o sonho era o mesmo, o lugar, tudo era igual. Então eu sorria e acordava.

Ela sumia e eu entrava no mais profundo e verdadeiro relacionamento da minha vida. Um amor sem precedentes e covarde diante da perda. Que se arrastou, se machucou e morreu de um dos lados, e no fim, só um deles ficou de pé, sofrendo.

Então ela retornou ontem a noite. E isso me causou um certo medo... foram os mesmos olhos, cabelos, sorriso, beijo, emergir, acordar. No mesmo cenário, mais uma vez, 14 anos e tudo ainda estava lá, em seu devido lugar.


Por que? Pra que? Quem?


Sozinho, sem motivos pra procurar nem se deixar ser visto, pra que ela invadiu minha cabeça de novo? Agora que já não tenho os pés pra caminhar. E nem o coração pra suportar.





(Allan Chaves, 18:55 - 19:17, 03/01/2015)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Por Demais.

Eu te desafio a viver.
O desafio de anos a fio.
Desafio de dias perdidos.
Calores, amores e dores.

Viva, deixe viver. Morra, deixe morrer.
Ame, corra os riscos ou viva na solidão,
correndo pra não chegar em lugar nenhum.

(Allan Chaves, 00:02 - 00:07, 02/01/2015)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Fluência

Eu deixei o último vestígio do que parecia ser amor no último dia do ano,
deixei ele escorrer por entre as águas salgadas que passavam entre meus dedos,
junto com ele um pouco de luz e bondade que rasgavam meu peito,
aceitei que era o momento de seguir em frente.

Mas no final, não é verdade.

O ano se inicia, mas o coração não saiu de onde devia,
deixei fluir, deixei passar, mas ele está onde sempre estará,
debaixo das cobertas, dentro da rede, por entre lençóis,
perdido em segredos pesarosos e sonhos de amor eterno.

Eu só posso deixar fluir, pra quem sabe um dia aceitar.

Um dia talvez. Mas não hoje.

(Allan Chaves, 23:20 - 23:25, 01/01/2015)