sábado, 31 de maio de 2014

Náufrago.

Eu ainda vivo os dias de um passado presente.
Ainda me deixo levar por momentos avulsos, incompletos e fadados ao fracasso.
Eu ainda acredito que tudo magicamente tornar-se-a maravilhoso.
Ainda vivo dos mesmos olhos, pele e boca.

Mas eles são um veneno.
São o mal encarnado em mim.
O mal que eu mesmo criei, e que eu alimento.
Alimento com o que não existe e que não volta mais.

A mesma boca que me destruiu. Me magoou. Que foi covarde.
Foi a boca que me jurou amor sem nunca dizer uma palavra.
E nessas palavras nunca ditas eu ainda me afogo.
Me afogo sem sequer subir entrar no mar.

Me perguntam o motivo de ainda tentar nadar nesse mar de incertezas.
Eu só respondo que é nas incertezas que eu consigo navegar.

Mas o que eu queria era uma tempestade, tão forte, tão destrutiva...
Uma que me afogue, que me afunde, que me deixe como há anos atrás...

Como um náufrago.
Pronto pra recomeçar numa ilha deserta.
Forçar-me a seguir em frente, levantar e caminhar, esquecer.


Mas dessa vez, se não for pra ficar, que não venha o mesmo velho barco me ajudar...


(Allan Chaves, 23:01 - 23:15, 31/05/2014)