domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Maré.

Toda forma de amor.
Seja toda forma de amar.
Aceita seja como for.
Viva e se deixe levar.

(Allan Wagner, 26/02/2012)

Renascido.

Do que sobrou do que é antigo, nada restou.
Da suavidade, nasceu a tão indesejada brutalidade,
do romantismo, talvez tenha sobrado ceticismo,
e daquilo que procura com tanto afinco, sobrou o ínfimo.

Mas está aqui, em algum lugar, está aqui,
vai ser difícil encontrar, então começe a procurar,
pois já iniciei minhas buscas, minhas pás trabalham,
minhas mãos estão cansadas e as picaretas já estão gastas.

Mas é difícil.

Não olhe pra mim como se fosse fácil desenterrar,
ou esqueceu que o homem que desejou esteve por aqui?
Esqueceu que ele foi soterrado por pedras e rancores?
Tão grandes que cobriram todo seu corpo...

Agora achei seus braços e estou puxando-o,
mas dói um pouco ainda, sim ainda dói,
vejo camadas de cinismo e machismo,
ocultando o herói que todo mundo via...

Ele, que nunca esteve num cavalo branco,
nunca carregou um estandarte, nem vestiu uma armadura brilhante,
sequer entrou num castelo ou sentou em um velho trono,
ele nunca foi assim, ele nunca foi isso.

Ele matou dragões, com sua armadura de couro pálido,
ele pulou de penhascos, matou ladrões e quebrou os braços,
sangrou, sangrou tanto que quase se entegou ao nada,
lutou, que quando perdeu, pensou que não valia nada.

Então, sorria, e o aceite.
Assim ele derrubará novos dragões, venha a vestir sua velha armadura,
talvez assim, ele possa ter alguma chance de combater seus inimigos,
clamar suas terras e comandar seu reino.

Mas apenas sorria.

Sorria e o aceite.
Talvez o sorriso seja o que falta.
Para que ele crie forças e saia debaixo dessas pedras.
Para que ele esqueça do passado, e viva o presente, e te siga no futuro.

(Allan Wagner, 18:01 - 18:36, 25/02/2012)

Doze.

Seja do que for,
seja pr'onde for,
seja pra estar,
que seja pra voltar.

Aqui fico,
aqui estou,
aqui vivo,
aqui sobrou.

Um pouco de mim,
um muito de ti,
doze anos de indas,
doze meses de vindas.

(Allan Wagner, 21:15 - 21:22, 20/02/2012)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Eu Ter.

Deixa eu ter o prazer da dúvida.
Deixa então passar o prazer da insistência.
Prazeres como distância, falta.
Deixa ser, deixa, apenas deixa...
Morena.

(Allan Wagner, 16/02/2012)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Mãos & Milagre.

Agarrado a mãos que prevem o milagre.
Eu sorrio.

Mãos que nos provem milagres.
Em lugares que não tenho.

Em lugares que não posso nos levar.

(Allan Wagner, 07/02/2012)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Remar.

Eu quero remar, procuro força pra remar, mas não sei, não aprendi, acho... acho que já remei algum dia, aprendi, não lembro com quem... mas sim, já remei... nadar, bem nadar eu já sei... já sei bastante, pois eu remava, acho que remei bastante, mas o barco que me ofereciam nem saia do porto e lá estava eu, lá no meio das ondas, nadando de volta pra margem. Uma vez quase me afoguei, é verdade! Parece incrível, mas eu fiquei boiando por três meses! Pois é... Um ano e pouco de viagem, e o barco simplesmente afundou. O capitão pulou primeiro e nem me avisou, só pulou, e eu afundei, quando já estava sem ar, qualquer coisa me puxou... Seja o que for, puxou. E eu fiquei lá, três meses, e estava doendo, meu corpo todo, doia e ninguém aparecia. Uma vez vi um barco tentando se aproximar, mas rezei... É, eu rezei um dia. Pra que ninguém chegasse perto. E funcionou, na verdade bem até demais. Então depois de seis meses eu consegui forças pra nadar, nadei forte, nadei rápido e alcancei o capitão que me deixara afundar com aquele navio.

E ele estava lá, me viu, eu sei que viu. Mas já estava n'outro barco, e eu conhecia aquele barco... Um barco que me atacou a distância e, quanto coincidência, o capitão também era o mesmo. Então pensa comigo, aquele capitão que eu defendi por um ano e pouco de viagem já tinha me atacado antes... Duas vezes, a primeira vez, há anos, atacando direto o barco que eu usava, e depois com o segundo barco, e agora, ele voltava pr'aquele segundo barco, e me atacava de novo.

Então eu nadei. Nadei pra longe. Nadei pra tão longe que esqueci o que é remar. E encontrei um novo barco, que me ofereceu abrigo, prazeres nunca antes imaginados, e muito, muito pouco a se fazer. Eu não remava, meu capitão era bondoso e usava velas, motores... tudo ia até bem... mas o meu antigo capitão atacou o barco e antes que eu notasse, eu já havia embarcado no barco do antigo capitão... por que? E meu último capitão... sim, aquele que ofereceu um barco com prazeres indescritíveis, arrumara outro tripulante. Sem nem mesmo saber se eu voltaria ou não.

Então eu vi meu antigo barco, estava belo, parecia muito mais forte, e oferecia remos. Eu quis remar. Quis reaprender a remar. Eu quis muito remar. Mas o capitão não permitiu, gritava comigo sempre que eu chegava perto dos remos. Então pra que tinha salvado minha vida? Pra que continuava a me manter no barco? Passei semanas olhando para os remos, passei semanas me arrastando pelos cantos do barco.

Então eu pulei.

Pulei e não olhei pra trás. Pulei e nadei com tanta força, com tanto afinco, com tanta vontade, que esqueci o caminho de volta. Cruzei com dois ou três barcos... pequenos, lentos, desavisados... mas sequer tive a chance de entrar de verdade. Um deles até foi atacado, e o outro me deixou uma carga especial. Destruído... Mas eu? E nadei. Nadei como nunca havia nadado, mais forte, mais vigorosamente, como um touro, eu empenhava toda minha energia, força, paixão pra sumir daquele mar.

Então próximo a costa me ofereceram novamente o mesmo barco, o mesmo remo, o mesmo capitão. Mas o capitão não aceita que eu leve minha carga, que até agora não sei se devo carregar ou entregar. O capitão não quer esperar, não deixa eu passar mais um minuto com a carga, e não aceita como eu estou a remar. Mas o capitão não me oferece as regalias dos barcos antigos, não me oferece prazeres inacreditáveis, não aceita minha carga, não aceita os portos que eu ofereço para descansar, e some. É, eu vi o capitão naqueles carnavais em Veneza! Por entre aqueles maravilhosos prédios, e me deixou amarrado ao barco. Sem saber onde estava.

Então, capitão. Eu estou tentando reaprender a remar, estou querendo carregar uma carga única, na qual lhe peço apenas tempo para que possa entender se devo abandonar ou carregar. Mas você não aceita. Esse barco está afundando devagar, e dessa vez, eu vou com ele até o fundo, debaixo d'água eu vou remar, vou quebrar os remos se necessário, vou quebrar meus braços contra a correnteza, vou fincar meus pés no convés. Mas a carga vai comigo. Meu passado está nos meus braços que tanto nadaram e não é fácil assim abandoná-lo.

Capitão, só o que peço é paciência. Peço que aporte nos mais prazerosos portos para que eu possa lhe mostrar que nem tudo que sabe é suficiente, não suma por entre folias e carnavais - e não diga que me avisou sobre seu paradeiro, pois dormi sobre o convés e você não retornou -, quero que carregue comigo essa carga para que eu tenha em quem confiar, pois esse barco está quase no fundo capitão, eu posso sentí-lo bater nos arrecifes e eu vou afundar com ele. E dessa vez, vai ser definitivo.

Só peço, me ajude a remar, mas não fique só nisso. Temos muito a carregar capitã, temos piratas a enfrentar, temos ilhas por aportar, temos tesouros a descobrir. Remar, remar e remar, não basta, sem um destino, sem rumo, nem prumo. Então capitã, tem que me prometer que essa viagem não vai ser à toa, que realmente valerá a pena.
Que por você minha capitã, tudo vale a pena.
Que por nós valerá a pena.
Vamos Remar. Continuar a remar.
Como me disse capitã.
Re-amar.
Amar.

(Allan wagner, 03:23 - 04:08, 07/02/2012)

'Baseado em textos de Caio Fernando Abreu'

D'estrelar.

Até a noite, você vai escutar,
meu canto vai te convidar,
vai te impressionar.

Até a noite, vai poder parar,
descansa de tanto trabalhar,
vem comigo se deitar.

E essa noite, eu posso te levar,
da Lua a Marte ou pular,
de estrela em estrela.

E quando o tempo, vier te mostrar,
mesmo que termine, não vá se orgulhar.
E quando terminar, que seja pra ficar,
que você venha pra ficar, não importa onde chegar,
logo aqui.

(Allan Wagner, 23:48 - 23:53, 06/02/2012)

Nós.

O som da noite,
a luz inquebrável,
os punhos em riste,
a dor intocável.

Lugares vazios,
peito a vácuo,
invólucro misto,
seus restos, pedaços.

Nós.

(Allan Wagner, 23:36 - 23:44, 06/02/2012)

O Fato.

Falta que só a falta faz...

Entende sobre o que vem acontecendo,
seus sacrifícios desiguais,
seres que não se mantém, estão além,
e só quer que tudo esteja certo.

Miragem?

No fundo, priva a pequena centelha de vida e felicidade de outrém,
martiriza-o, fazendo-o acreditar que trata-se de uma praga para ambos,
enquanto o sacrifício que ele tenta fazer por ti, é o mesmo,
só não percebe que a mente e coração ao seu lado é frágil e trincada.

Você não o conhece...

Ela tanto parece não querer conhecer o novo,
não entende que nele não há mais tanto amor pelos outros como antes,
mas lhe sobra aquele amor próprio que você mesma sempre lhe cobrou...
A tal ponto que, agora, aos olhos de todos parece ser puro egoísmo...

Não fazer o suficiente...

Cobra, pede, reclama um momento aquele apaixonado homem de anos atrás,
mas foge sem contar pra onde vai, vai pra festas, danças e carnavais,
e o amoado amado, descansa sobre uma cama sem sinais de sua vida...
Crendo no descanso de teus momentos cansados de uma semana de trabalho.

O fato: você existe...

Existe. Insiste. Descansa. Alimenta. Vive.
Preso no labirinto do próprio pensamento, confuso e insensato,
bastando-lhe saber que sua presença anda por esse mundo...
O fato pra que ele viva: você existe.

Você existe, você vive.

(Allan Wagner, 21;01 - 21:19, 06/02/2012 )